segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Consumindo-se

Na etimologia da palavra, “Consumismo”, provem de Consumir, CONSUMERE (latim). É usar, comer, estragar. Mas além deste significado em si, qual a origem da atitude de consumir?
Em cima disso, faremos algumas divagações sobre o assunto, de questões relacionadas à vida do cristão no que tange o consumismo em nossa sociedade atual.
Em linhas gerais, o consumo, fruto do esforço do trabalho humano, surgiu depois da queda, no Éden: “com o suor do teu rosto, comerás o teu pão”. O esforço humano já foi a moeda de troca inicial para se obter algo (no Jardim do Éden, tudo estava à mão, “de graça”, dado por Deus, no plano original). No começo, obviamente, não havia o dinheiro como moeda de troca. Havia sim, a troca de produtos, um proprietário de determinado produto trocando este pelo de outro proprietário. Essa troca é chamada de escambo.
Quem sabe ali, já tenha começado a dificuldade em o ser humano aceitar algo de graça, porque nada viria de graça para ele dali por diante, tudo teria um preço, algum esforço humano. Algo contrário à Salvação, a graça (onde nosso instinto é tentar “pagar” por ela).
Neste contexto de troca de produtos, originou-se já uma diferenciação de classes, uma vez que quem produzia mais ou possuía mais terras ou produtos, tinha mais poder de troca, a lei do quem pode mais, imperando o egoísmo ao invés da partilha das bênçãos com quem menos possuía.
Porém, Deus interferiu nesta sequência de desigualdades, conferindo lições importantes e interessantes, quando o povo de Israel adentrou na Canaã e foi feita a partilha de terras e toda sorte de leis mosaicas colocando todos em pé de igualdade, uma verdadeira “reforma agrária” orientada por Deus e que nos mostra, o quanto Deus quer que sejamos uma comunidade, na essência da palavra, comum a todos. O modelo de igualdade prosseguiu, quando Israel era governado por Juízes, algo diferenciado do modelo da época ao redor. Mas, não demorou muito, o povo de Deus desviou seus olhos do modelo apresentado por Ele e contemplou (note que se comparou, cobiçou) as nações vizinhas, seduziram-se pelos padrões seculares – exigiram um rei para sua nação.
Com o modelo secular implantado, começou a luta pelo poder, diferenciação de classes no povo de Deus, acúmulo de riquezas e impostos cada vez mais altos para sustentar todo aparato monárquico e a sedução que o poder traz para quem está no controle deste.
No reinado de Ezequias, aos visitantes de Babilônia, o rei lhes mostrou as riquezas do tesouro real, o ouro, e não a Verdade, o Deus vivo que transforma vidas pobres em ricas de esperança e regozijo no Altíssimo. A conseqüência disso, foi catastrófica, a destruição de Israel pela cobiça do império babilônico.
Quem sabe hoje, não tenhamos esta mesma tentação, de mostrarmos primeiramente aos “visitantes modernos”, a estrutura de nossa igreja, construções, a organização administrativa, e deixando de mostrar o que temos sim de melhor, sermos portadores de uma mensagem de esperança de uma vida nova e melhor, o descanso para as almas fatigadas errantes por este mundo.
Talvez seja o tempo de olharmos para trás e vermos que a igreja no tempo de Cristo estava totalmente “comercial e consumista”, baseada no status, na aparência, na venda de posições e cargos, e que o povo que Deus quer que sejamos, seja aquele que olha para os lírios do campo e que a maior prova de humildade, foi quando o Rei do Universo habitou entre nós nas mais simples condições e que nos quis passar tais lições eternas. Os discípulos de Jesus absorveram estes preciosos ensinamentos, quando disseminaram o Evangelho pelo mundo e o que os cristãos daquela época possuíam tudo em comum. Surge a pergunta, se os cristãos de hoje podem ser diferentes daqueles, nossos pais no cristianismo.
Indo um pouco mais adiante no nosso assunto, Consumismo, na Idade Média, na Europa, somente os reis tinham o direito de vestir-se com as melhores roupas, o que era proibido às outras classes sociais da época (com exceção ao poder eclesiástico dominante da época).
Porém, com o advento da Burguesia, estes tiveram poder de compra e também político, e começaram também a usar o tipo de roupa que a nobreza também vestia. Usavam roupas para imitar a nobreza, ou seja, lhes conferir na aparência exterior, algo que na realidade não eram.
E remetendo para os dias atuais, quem são estes “nobres” de hoje?
Poderiam ser muito bem, os famosos, os artistas, todos os “pré-fabricados” pelos meios de consumo e lançados pela mídia, para que sejam referenciais aos que tenham falta de uma referência maior de vida, sendo promotores de padrões de comportamento, roupas de moda, bens de consumo em geral, cortes de cabelo e toda uma sorte de tendências de CONSUMO, para fazer girar a roda gigante da cadeia de produção.
E assim, já que não se pode ser um destes ídolos, astros, estrelas, referencias, quem sabe vestindo-se, comportando-se, consumindo-se o que eles consomem (o que a mídia diz que eles consomem), o indivíduo com seu vazio existencial não se aproximará mais em uma projeção a estes modelos de vida tão falíveis e efêmeros?
Surge a pergunta: a quem queremos ser semelhantes?
A um mundo, com tendências voláteis e insatisfatórias ou semelhantes a um Deus que criou o ser humano à Sua imagem e semelhança. Há um Deus, ansioso em que busquemos a Ele como referencia de vida, hábitos e comportamento, pois só Deus sabe o que é melhor para cada um de Seus filhos.
Dentro do povo de Deus, é notável a “evolução” (nem tudo evolui para o melhor) de alguns padrões. Antes, o que era “escandoloso” em aparência visual, por exemplo, hoje em dia está “normal”.
Tal fenômeno, pode se explicar de que tudo o que é “novo” gera medo, incertezas. Mas quanto mais esse novo (que gera medo e é escandaloso) estiver sendo corriqueiro na vivência do membro da igreja, por meio de agentes e indivíduos disseminadores, mais vai quebrando paradigmas e implantando um novo padrão de comportamento.
Tal quebra de paradigma pode-se originar na contemplação de padrões seculares de vida (na TV, Internet, Filmes, etc, de modo exagerado) e ser um agente disseminador na comunidade religiosa destes novos padrões ou “embarcar na onda” de ser igual a esses padrões seculares, ao invés de ser um contraste, um contra-ponto ao que um mundo consumista e individualista propõe.
Prosseguindo pelo nossa viagem pelas veredas do Consumo, pode surgir uma pergunta:
- Porque compramos coisas, se temos tudo o que necessidades (abrigo, vestuário, alimento, locomoção, etc)?
Não estaríamos nós satisfeitos ou deveríamos estar, com o que temos e é já suficiente para nossas vidas?
Abordando tal questionamento, seria importante colocar que um dos principais objetivos do Marketing é GERAR SATISFAÇÃO!
Mas então, como gerar satisfação em pessoas que possuem o que é necessário e que já estariam satisfeitas com o que tem?
A reposta é simples e só uma:
É necessário lhes gerar INSATISFAÇÃO!

Mas como?

Fazendo as pessoas verem, assistirem, escutarem, através de toda uma sorte de artifícios psicológicos e de marketing, por meio da mídia, contemplar os novos referenciais de modelos de vida e de comportamento, que as façam sentir que “estão por fora”, bregas, desatualizadas, empacadas, feias, enfim, INSATISFEITAS e que precisam de outras coisas, além das necessárias.
Ou seja, deixaram se fitar seu olhar nos “lírios do campo”, no modelo ensinado de modo tão belo e poético pelo Maior Referencial de vida, Jesus.
Com os olhos voltados para outros objetos de contemplação, Novelas, Filmes, Propagandas, companhias indesejáveis, deixaram de ter o foco no Céu para terem o foco numa vida tão curta e que se dispersa ao vento.
Note o leitor que tal tipo de contemplação suscita muita vezes a transgressão do 10º mandamento (não cobiçarás...), onde este mandamento é uma salvaguarda aos apelos individualistas e tão passageiros deste mundo. O ouro deste mundo é o calçamento do Céu. Pelo contemplar se é transformado.
Como conseqüência, cristãos focados nas coisas deste mundo e não nas do Alto. Pessoas insatisfeitas, querendo sempre mais e portanto, impossibilitadas de partilhar o que têm – o alimento, a amizade, a compaixão pelo próximo e até mesmo a Verdade que Deus nos outorgou a partilhar, porque se está “ocupado demais” com outras preocupações, que demandam tempo e foco de vida.
Consumir é antagônico a Compartilhar. Consumir é ser um só, uma unidade, enquanto Compartilhar é ser uma Comunidade, ter o que possui, em comum com o próximo.
Infelizmente, tal estilo de vida, voraz, de consumir, entrou nos relacionamentos humanos. Cada vez mais, pessoas casam-se para “consumir um produto”, consumir o cônjuge, querem tão somente ser satisfeitas e cada vez menos, satisfazer, fazer o outro feliz. Quando o “produto não atende às necessidades” (pseudo necessidades), é descartado, vai-se em busca de outro que preencha a insatisfação gerada pelos padrões seculares que são contemplados.
Por fim, tudo isso seria trágico, depois de desenhado todo este panorama consumista, que nos pressiona a sermos o que não somos, se não fosse, Jesus Cristo.
O Filho de Deus PAGOU o preço da nossa culpa, com seu sangue numa cruz que era nossa e que lá disse: “Está consumado”.
Jesus, o Deus nascido homem em grande humildade, vivendo uma vida de abnegação, compartilhando vida, abraços, amparos, curas, mostrou-nos o caminho, a direção a seguir, o padrão de vida que traz a real satisfação que preenche por inteiro nossos anseios mais íntimos, plantados em nossos corações ao Ele nos ter criado para estarmos perto dEle.
Jesus, nosso verdadeiro referencial, pagou a entrada para irmos a um lugar muito especial e eterno, onde tudo será perfeito, puro, a vida eterna, no Céu.
Só nos basta aceitarmos, sem darmos nada terrenal em troca, Deus apenas quer o nosso coração, nossa atenção, afeições, nossos 5 sentidos voltados a Ele.
Faça essa troca, deixemos de fitar os olhos nas ilusões tão passageiras deste mundo. Os lírios do campo, a simplicidade de vida, estão ainda no mesmo lugar onde um dia, Jesus, o Deus que se fez homem, apontou e nos disse. Olhe para lá, junto com Ele.