O agravamento da situação econômica no Mundo Velho pode levar ao surgimento, no mapa político, de novos Estados. O reforço da integração entre os países da zona euro tem fomentado as tendências centrífugas dentro de Estados comunitários.
Umas regiões exigem a independência política, outras presumem contentar-se com a autonomia econômica.
O mapa da Europa poderá ser alterado nos próximos 3 ou 4 anos. Os nacionalistas da Catalunha, depois de terem triunfado nas eleições regionais, se dispõem a referendar a questão da independência em relação à Espanha. Na Bélgica, tem vindo a aumentar a hipótese de separação da região de Flandres, de expressão holandesa. Em paralelo, foi rubricado um acordo sobre realização, em 2014, do referendo quanto à eventual independência política e econômica da Escócia. Na Itália, a Liga Norte insiste em que seja concedida a autonomia às províncias industriais que vão sofrendo "por causa do sul do país, preguiçoso e corrupto". A Baviera solicitou o procedimento, ainda este ano, da revisão da Constituição Financeira da República Federal da Alemanha (RFA), alegando a impossibilidade de "fazer a vista grossa ao esbanjamento de recursos financeiros por outras regiões".
O regionalismo é um lado inverso da integração européia, considera o presidente do Instituto da Estratégia Nacional, Mikhail Remezov. As pequenas regiões já não temem a independência por se encontrarem sob a tutela de estruturas pan-européias que assumiram a maior parte de funções habituais exercidas por Estados.
"A fragmentação do monólito nacional se relaciona à consolidação de entidades européias supranacionais. Anteriormente, no processo de formação de novos Estados, vigorava o princípio duro de combate aos ânimos secessionistas - era proibido colocar a questão sobre a soberania desde que não existisse um respectivo potencial demográfico e econômico. Para não falar de eventuais e reais litígios ou controvérsias com os povos e os países vizinhos. Mas sob a alçada pan-européia este princípio deixou de vigorar".
Uma parte dos peritos explica o fortalecimento do regionalismo com a crise econômica. Os membros ricos da zona do euro - como Alemanha e França - estão descontentes porque não lhes apetece muito lidar com os problemas financeiros dos países vizinhos pobres. As regiões industrializadas não querem fazer doações às regiões menos desenvolvidas. É verdade que nos tempos da crise não há dinheiro ocioso. Todavia, no parecer de Vladislav Belov, diretor do Centro de Pesquisas Germânicas do Instituto da Europa, o fator econômico se relega para o segundo plano.
"Em parte, as tendências separatistas são uma resposta ao fenômeno de multiculturalismo por ser necessário prestar mais atenção à cultura regional. Falando da cultura alemã, referimo-nos, sobretudo, a Goethe ou a Schiller, embora esta cultura se alicerce em culturas regionais. O norte da Alemanha representa uma tradição cultural, o sul representa outras praxes e normas. Assim, pois, se trata do crescimento de autoconsciência cultural que leva ao surgimento de um paradigma seguinte: como sabemos trabalhar melhor, merecemos uma vida melhor. Não devemos alimentar outras pessoas".
As autoridades européias não sabem como reagir, nem podem avaliar todas as consequências deste fenômeno. O politólogo e professor catedrático do Instituto das Relações Internacionais (MGIMO, sigla russa), Valeri Solovei, constata que o reforço de tendências regionalistas e a eventual desagregação de alguns Estados constituem uma parte das transformações globais causadas pela crise econômica. O mundo se viu numa situação idêntica à que se formara no início do século XX. É como se fosse uma vaga que se torna cada vez mais alta sem que ninguém esteja em condições de medir a sua dimensão ou identificar a origem.
Economistas estão refletindo sobre a mudança de alicerces tecnológicos. Os politólogos apontam para a transformação de sistemas políticos e sociais. Alguns peritos têm encarado o regionalismo como um processo objetivo cuja essência poderá ser compreendida com o tempo. Se as decisões sobre a autonomia se tomam nos quadros de procedimentos democráticos, então as elites européias não têm o direito de impedi-las ou inviabilizar. É possível que a Europa proponha novos modelos de desenvolvimento, cujas vantagens têm de ser aproveitadas ao máximo.
Fonte: Voz da Rússia