A foto de uma aula na qual o professor ensina a alunos do 6º ano do Colégio Adventista de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá (MT), que os fósseis são restos de animais e plantas petrificados formados "na época do dilúvio" tem gerado muita repercussão nas redes sociais, após a imagem ter sido publicada na página do Facebook da escola.
A foto da aula, publicada no começo do mês, tem gerado muitas críticas de pessoas contrárias à proposta de ensino e acusam a igreja de "alienação" além de considerarem a aula uma "piada". Já outros defendem a iniciativa como uma proposta "crítica", pautada na "fé" e aplaudem a coragem da entidade e do professor.
Segundo nota divulgada pela escola, o ensino praticado pela instituição é o criacionismo em conjunto com o evolucionismo, baseado em argumentos científicos e lógicos, sem imposição de crenças religiosas e "em harmonia com as prescrições do Ministério da Educação e Cultura". De acordo com a escola, a maioria dos alunos não frequenta a Igreja Adventista, mas o objetivo é desenvolver o entendimento de ambos os modelos entre os estudantes.
Acerca da aula sobre os fósseis, a instituição esclarece que "para que haja fossilização, são necessários (pelo menos) fatores como sepultamento rápido (para evitar a decomposição do animal ou que ele seja devorado por predadores/carniceiros) e grande quantidade de água e sedimentos (...) pode ter havido um grande evento catastrófico no passado que promoveu extinções em massa". Segundo a escola, o professor tentou apenas permitir que os alunos desenvolvam senso "crítico/comparativo".
"Além disso, é bom lembrar que são conhecidas centenas de culturas em todo o planeta que guardam algum relato relacionado com uma grande inundação que teria devastado o mundo. Lamentavelmente, a intenção do professor foi distorcida e a aula sobre fósseis virou motivo de acalorado debate no Facebook. Tivesse ficado apenas no debate, já teria valido a pena, pois o debate, quando respeitoso, acaba sendo proveitoso, ainda que apenas para que se conheçam as ideias de quem pensa de maneira diferente", diz o comunicado, que finaliza dizendo que a instituição está e primeiro lugar no município entre as escolas cujos estudantes são submetidos à prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Procurado pelo Terra, o Ministério da Educação repassou ao Conselho de Educação mato-grossense a responsabilidade pelo acompanhamento e aprovação do que é ensinado nas escolas daquele Estado. Através de sua assessoria de imprensa, a pasta demonstrou preocupação com o caso e prometeu repassar as informações para o ministro Aloizio Mercadante.
De acordo com o Conselho de Educação do Mato Grosso, o Estado é laico, segundo normatiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, por isso o ensino de preceitos religiosos não deve ser cobrado como conteúdo em provas, por exemplo. Apesar da escola ser mantida por uma instituição adventista, o ensino religioso deve ser algo facultativo para o estudante, além de precedido de uma discussão e aprovação em assembleias dentro da escola, antes de ser apresentado ao conselho para avaliação.
Membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC) que atuam na área da genética manifestaram preocupação com o consideraram ideias "retrógradas que afrontam o método científico, fundamentadas no criacionismo, também chamado como 'design inteligente' (...) sentimo-nos afrontados pela divulgação de conceitos sem fundamentação científica por pesquisadores de reconhecido saber em outras áreas da Ciência", diz a carta divulgada pela ABC.
De acordo com o site do colégio, a aula de História "diferente" foi ministrada com a supervisão do professor Toni Carlos Sanches, com a simulação da produção de fósseis. "A discussão girou em torno da questão se os fósseis se formaram há milhões de anos atrás como sugere o Evolucionismo, ou, se foram formados há milhares de anos atrás por ocasião do dilúvio, como sugere o Criacionismo", segundo divulgou a instituição. "Após os experimentos os alunos ficaram entusiasmados e muitos confirmaram a crença em um dilúvio universal", completa.
No entanto, a discussão não é nova. Nos Estados Unidos uma lei do Estado do Tennessee, que deve entrar em vigor brevemente, permitirá que os professores de escolas públicas questionarem o consenso científico em questões como aquecimento global e teoria da evolução.
A medida visa permitir aos professores que ajudem os estudantes a compreender, analisar, criticar e revisar de forma objetiva as potenciais fragilidades científicas das teorias existentes abordadas na disciplina ensinada, mas que não deve ser usada "para promover qualquer doutrina religiosa ou não religiosa", segundo diz o texto da nova lei.
Fonte: Terra